sexta-feira, 29 de julho de 2011

Entrevista com o Prof. José Manoel Moran

A distância e o presencial cada vez mais próximos  (Paulo Chico)
Fascinado pela educação a distância e suas possibilidades, José Manuel Moran veio de longe. Nascido em Vigo, na Espanha, cruzou o Atlântico e tornou-se um dos mais respeitados especialistas no uso de tecnologias aplicadas aos processos de aprendizagem. É disso que trata esta entrevista, que tem como foco a instalação da internet banda larga na quase totalidade das escolas públicas do Brasil, meta anunciada pelo Governo Federal.             Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e Diretor do Centro de EAD da Universidade Anhanguera-Uniderp, Moran é autor de diversos livros, como A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, pela Papirus Editora, e que acaba de chegar à 3ª edição. Qualificação dos professores, recursos de ambientes virtuais, redes de colaboração e riscos do mau uso da internet foram alguns dos temas abordados pelo educador que, defensor das interações humana como combustível para a aprendizagem, vê fragilizada a fronteira entre o que é presencial e o que se acredita a distância.    “Uma boa escola precisa de professores mediadores, vivos, criativos, experimentadores, presenciais e virtuais. De mestres menos falantes, e mais orientadores. Precisamos de uma escola que fomente redes de aprendizagem, entre professores e entre alunos. Onde todos possam aprender com os que estão pertos e longe, conectados audiovisualmente. Aprender em qualquer tempo e qualquer lugar, de forma personalizada e, ao mesmo tempo, colaborativa”, afirma.                             
Meta do governo federal é de que, até o final deste ano, 92% da população escolar brasileira estejam atendidas por internet banda larga. O que essa medida representa?
Esse é um passo importante para que as escolas possam ter acesso à internet, às redes e à mobilidade. Inicialmente o plano governamental era que todas as escolas tivessem acesso a um laboratório conectado à internet. Mas, com a banda larga, será possível ampliar o acesso, transformando salas de aula, bibliotecas, pátios e outros espaços em lugares de aprendizagem flexível e compartilhada.
Isso de fato é prioridade no cenário da educação brasileira? Não há outras deficiências básicas mais urgentes?
Na educação há muitas frentes importantes. Posso destacar algumas, como as políticas de formação, para atrair os melhores professores, remunerá-los bem e qualificá-los melhor; as políticas inovadoras de gestão, que consistem em levar os modelos de sucesso de gestão da iniciativa privada para a educação básica; o forte apoio ao ensino técnico e tecnológico, integrando-os melhor, de forma que um aluno possa profissionalizar-se antes e ao mesmo tempo seguir um currículo superior mais próximo do que a sociedade necessita; e, por fim, o incentivo a parcerias público-privadas eficientes e constantes, com maior integração de programas e recursos econômicos e tecnológicos.                                                
Como as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) entram nesse pacote?
A inserção no mundo das tecnologias conectadas é um caminho importante para preparar as pessoas para o mundo atual, para uma sociedade complexa, que exige domínio das linguagens e recursos digitais. Em educação não podemos esperar que todos os outros problemas sejam equacionados, para só depois ingressar nas redes. Escolas não conectadas são escolas incompletas, mesmo quando didaticamente avançadas. Alunos sem acesso contínuo às redes digitais estão excluídos de uma parte importante da aprendizagem atual: do acesso à informação variada e disponível de forma online, da pesquisa rápida em bases de dados, bibliotecas digitais, portais educacionais. Estão fora da participação em comunidades de interesse, de debates e publicações online. Enfim, da variada oferta de serviços digitais.                       Quais ações correlatas devem ser tomadas para que a informatização das escolas surta o efeito desejado, com salto na qualidade do ensino?Informatização é mais do que colocar computadores. É conectar todos os espaços e elaborar políticas de capacitação dos professores, gestores, funcionários e alunos para a inserção das tecnologias no ensino e aprendizagem de forma inovadora, coerente e enriquecedora. Os projetos pedagógicos precisam refletir essa integração horizontal e vertical com o currículo. As tecnologias digitais facilitam a pesquisa, a comunicação e a divulgação em rede. Temos as tecnologias mais organizadas, como os ambientes virtuais de aprendizagem – Moodle e semelhantes – que permitem que tenhamos um certo controle de quem acessa o ambiente e do que precisa ser feito nas etapas de cada curso. Além desses ambientes, há um conjunto de tecnologias, que denominamos popularmente de 2.0, que são mais abertas, fáceis e gratuitas, como blogs, podcasts, wikis… Nesses espaços, os alunos podem ser protagonistas dos seus processos de aprendizagem. E isso facilita a aprendizagem horizontal, isto é, dos alunos entre si, das pessoas em redes de interesse. A combinação dos ambientes mais formais com os informais, feita de forma integrada, nos permite a necessária organização dos processos com a flexibilidade da adaptação ao perfil de cada aluno.
De forma prática, como as tecnologias devem ser exploradas? Qual seu uso mais racional e eficaz nas escolas?
O ideal é que estas tecnologias Web 2.0 – gratuitas, colaborativas e fáceis – façam parte do projeto pedagógico da instituição para serem incorporadas como parte integrante da proposta de cada série, curso ou área de conhecimento. Quanto mais a instituição incentiva o trabalho com atividades colaborativas, pesquisas, projetos, mais elas se tornarão importantes. Podem ser utilizadas também para produzir conteúdos interessantes e deixar para o professor o papel de organização das atividades, de discussão, orientação, apresentação dos resultados e sua publicação pelos alunos. Com boas propostas no começo de cada semestre, as possibilidades de motivação dos alunos e professores aumentarão, sem dúvida.         
Sem treinamento ou direcionamento pedagógico, o uso da internet pode trazer prejuízos?
A internet é uma projeção de tudo que o ser humano faz de bom e de ruim. Ela tem tudo de mais interessante, resolve um monte de problemas, como pagar contas sem filas. Tem mil vantagens de comodidade de acesso. Ao mesmo tempo, o ser humano coloca ali diversas aberrações, tanto do imaginário quanto das situações reais. Na internet há o acesso à informação para a qual o aluno pequeno não está preparado, na área da sexualidade, pornografia e violência. Isso sempre existiu, mas a internet escancarou a facilidade de acesso. A solução não está principalmente em
bloquear ou em não falar disso. Temos que aprender a lidar com as tecnologias. Orientar, acompanhar, porque uma criança pode envolver-se em situações complicadas. A criança, quando percebe que os pais e professores confiam nela e se preocupam, mostra quais sites costuma visitar, ou logo aponta alguma situação anormal. A internet é um meio rico de possibilidades e de problemas. E a escola é um espaço privilegiado de aprendizagem a saber fazer essas escolhas.                                                                                                                     
Como qualificar os professores? Por que ações neste sentido caminham em passos tão lentos no Brasil?
O professor demora em torno de dois anos – numa pesquisa feita na França – para dominar as tecnologias e poder utilizá-las no seu planejamento e avaliação. Há um longo caminho de aprendizagem como usuário e depois como educador. O importante é começar com recursos simples – um blog, por exemplo – e ir tornando mais complexas as atividades, aos poucos, para que se sinta seguro de que faz sentido o que está se propondo. Não basta só ser moderninho. O importante é que o aluno aprenda cada vez mais.          
Onde o professor, por vezes abandonado pelas políticas públicas, pode buscar informações sobre inclusãodigital?O Portal do Professor do MEC e alguns portais educacionais, como o Diaadiaeducação, da Secretaria de Educação do Paraná, são excelentes para conhecer o que é feito, realizar cursos básicos e encontrar materiais e atividades importantes em diversas áreas de conhecimento.

O professor já percebeu que não é mais a única fonte do saber para os estudantes?  Esse tem sido um processo traumático para os educadores?Uma boa escola depende fundamentalmente de contar com gestores e educadores bem preparados, remunerados, motivados e que possuam comprovada competência intelectual, emocional, comunicacional e ética. Sem bons gestores e professores nenhum projeto pedagógico será interessante, inovador. Não há tecnologias avançadas que salvem maus profissionais. São poucos os educadores e gestores pró-ativos, que gostam de aprender e conseguem colocar em prática o que aprendem. Temos muitos profissionais que preferem repetir modelos, obedecer, seguir padrões. Sem pessoas autônomas é muito difícil ter uma escola diferente, mais próxima dos alunos que já nasceram com a internet e o celular. Uma boa escola precisa de professores mediadores, vivos, criativos, experimentadores, presenciais e virtuais. De mestres menos ‘falantes’, mais orientadores. De menos aulas informativas e mais atividades de pesquisa, e experimentação. Desafios e projetos. Uma escola que fomente redes de aprendizagem, entre professores e entre alunos. Onde todos possam aprender com os que estão perto e também longe, conectados. Onde os mais experientes possam ajudar aqueles que têm mais dificuldades. O futuro será aprender em qualquer tempo e lugar, de forma personalizada e, ao mesmo tempo, colaborativa. Teremos flexibilidade curricular e facilidade de estarmos juntos, conectados audiovisualmente.

Alunos de cursos EAD conquistam aprovação em concursos públicos

É crescente a procura de alunos por cursos preparatórios a distância para concursos públicos. Estas instituições de ensino que investem na EAD, quase sempre, conseguem bons resultados, com expressivos índices de aprovação. O concorrido sonho de ingresso na carreira pública tem reservado novidades. E surpresas. É o caso dos alunos que concluíram cursos regulares e tiveram êxito na disputa por vagas no setor público. Exatamente como ocorreu no curso de Serviço Social do Ensino a Distância da Unopar Virtual (Universidade Norte do Paraná).

Muitos deles foram aprovados em concursos públicos para o cargo de Assistente Social, realizados em diversas regiões do país. Para a Pró-reitora de Ensino a Distância da instituição, Elisa Maria de Assis, a aprovação dos alunos reforça a qualidade do ensino a distância. “Divulgar os resultados obtidos pelos egressos da EAD desmistifica o preconceito que existe sobre essa modalidade de ensino e potencializa o excelente trabalho realizado pelos docentes e alunos”, completa a professora.

A aluna Maria da Graça conquistou a vaga de Assistente Social em concurso público promovido pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais na cidade de Manga. Ela colou grau no sábado, dia 26 de março de 2011, e conquistou o feito ainda enquanto fazia o penúltimo semestre do curso. Para Maria, a principal dificuldade era que na região da pequena cidade do interior do Norte de Minas as faculdades presenciais ficavam muito distantes. O curso EAD, então, rompeu as barreiras físicas do ensino, possibilitando o desenvolvimento da região.

“Essa foi a melhor oportunidade que eu tive, eu sinto que o sistema EAD ainda sofre muito preconceito. Quando fiz a inscrição do concurso, senti isso. Mas o conteúdo está validado. Prova disso é a minha própria aprovação no concurso público do qual participei. Foi com o conhecimento que a Unopar me ofereceu que eu fui aprovada, tudo que foi cobrado na prova  do concurso me foi oferecido pela Unopar”, disse.

Aprovada em 1° lugar no concurso público da Prefeitura de Sapezal, no Mato Grosso, outra aluna da EAD da Unopar, Rosani Garmatz, também festeja a classificação. “O nosso coordenador de curso sempre nos deu dicas para estudar. Ele sempre dizia que nossas provas estavam no mesmo nível dos concursos, e foi com esse material, com as webaulas e as teleaulas que eu estudei. O material complementar da EAD me ajudou muito.”

Recentemente outro aluno do curso de Serviço Social EAD da Unopar foi aprovado em 1° lugar em concurso público para Assistente Social. Marcelo Silva Firma, de 30 anos, conquistou a vaga na cidade de Eduardo Magalhães, na Bahia. Ele, que concluiu o curso em agosto de 2010, conta que os inscritos por vaga chegavam a 150. Mas isso não foi motivo para desistência. “Sempre fui um aluno dedicado e me preocupei com os estudos. Acreditava na Unopar e no meu potencial como aluno independente para aprender no esquema a distância”, afirma Marcelo.

Para ele, o estudo a distância lhe proporcionou empenho extra em relação ao interesse em aprender. “Somos nós que ordenamos os nossos horários de estudos fora da universidade, e não perdemos nada na aprendizagem. Estou muito feliz por ter estudado na Unopar Virtual, que me fez aprender de maneira autônoma e independente”, ressalta.